“Um burro com muito amigos eruditos passa por um douto!”
Afigura-se-me que somente numa certa nação do mundo ocidental uma personagem como Vasco Pulido Valente (VPV) conseguiria sobressair. Esse país, Portugal, em parte pelos circunscritos índices de leitura que continua a manifestar, é o terreno ideal para tão jactanciosa personagem continuar a pavonear-se. Ontem, dia 21 de Maio Vasco Pulido Valente, na sua coluna do Público (que pode ser lida na reprodução que Eduardo Pitta efectuou no Da Literatura), argúi relativamente a uma carta pessoal que recebeu, asseverando que contém inúmeros e graves erros de Língua Portuguesa. É mais um testemunho da sua inurbanidade efectuar tais acusações sem apresentar a mínima prova, pois numa simples carta da responsabilidade de ministérios de ‘áreas de âmbito cultural´, será praticamente impossível constarem tantas incorrecções. Mas nisso VPV é um bom demagogo! Por outro lado faço questão de lembrar a VPV que os diversos planos de promoção da Leitura e afins nunca assumiram a pretensão de atingir determinados fins em si mesmo mas funcionam como meios, móbiles de estimular a Leitura. Como elementos agitadores de uma pronunciada letargia cultural que sempre perpassou o nosso país, e que o VPV com certeza está interessado que se prorrogue para não lhe ‘destaparem a careca’.
Os diversos documentos associados aos programas de promoção da Leitura estão sempre impregnados de um tom essencialmente retórico e formal, em face da sua inerente natureza e dos propósitos em que se direccionam. Não são propósitos quantitativos, rigidamente balizados mas são sobretudo um manifesto de intenções que visa mobilizar o máximo de recursos materiais e humanos para esse desígnio. VPV que ordinariamente nas suas crónicas fala do “duvidoso gosto do Povinho” nas suas opções culturais e afins, quando lhe convém dá o dito por não dito, e aparece como o primeiro defensor de toda a libertinagem de escolhas. Não cabe ao Estado orientar o gosto do bom povo? No seu essencial não, mas o Estado (no sentido lato) ao assumir as suas responsabilidades conformes à instrução, educação e à produção e difusão de instrumentos, produtos e matrizes de natureza cultural, neste sentido imbrica com a orientação cultural dos seus cidadãos. Deste modo VPV limita-se a apresentar sonsos maniqueísmos! Se VPV tivesse lido com alguma atenção os programas afins precedentes denotaria que expressões como por exemplo “mobilizar toda a sociedade portuguesa para a importância da leitura” são lugares-comuns nesses textos, mormente panfletários. Não são muitos desculpáveis tais chavões mas são meras reproduções de textos anteriores, mesmo de governos de suas cores partidárias.
Se os planos/programas de promoção da leitura desde logo nas suas enunciações teoréticas dão uma ênfase a estratos etários mais baixos, por razões sobejamente sabidas e facilmente compreensíveis; a verdade é que na implementação prática de tais programas o enfoque nos adolescentes e jovens é ainda acrescido. Certamente a maioria desses petizes não terão como ‘livros de cabeceira’ os best-sellers de Miguel Sousa Tavares, José Saramago, Dan Brown, etc Por outro lado, na globalidade, muitos desses best-sellers são lidos em sistema ‘fast-food’ e a Leitura é muito mais que isso. As elevadas tiragens desses livros podem de certo modo camuflar, ou dar a ilusão que os índices de leitura em Portugal incrementaram-se acentuadamente, mas numa análise ponderada do mercado livreiro observa-se cada vez mais uma maior dualidade no mercado entre esses dois a três best-sellers que surgem a cada dois meses (e que no geral têm muita parra mas pouca uva) e muitos dos restantes cerca de trinta livros que são publicados a cada dia e dos quais muito pouco exemplares são comercializados.
O programa efectivo do Plano só irá ser apresentado dia 4 de Junho na Feira do Livro de Lisboa mas pelo que ao longo do tempo foi escapando cá fora, ajuízo que o plano persistirá essencialmente no papel, o espectro de instituições e organizações envolvidas apesar de alguns quadrantes vir a estar muito bem representados noutros pecará por escassez, a própria duração do Plano deveria ser ainda mais extensa. Mas principalmente não é um programa estruturante mas mormente um conjunto de medidas e iniciativas. Por outro lado o montante financeiro destinado Plano será relativamente reduzido e não como VPV afirma mais uma causa relevante para a nossa crise económica. VPV arrasa com um Plano que ainda nem público é, limitando-se a verberar as vulgares críticas a este género de projectos do Governo, e que se ouvem a qualquer esquina do País.
Mas não é por mais uma vez o Plano não estar a ser delineado da forma mais eficiente que se deverá abandonar a ideia de projectos de promoção da Leitura. Pelo contrário! E depois VPV deveria estar mais actualizado e saber que a Leitura desde há umas décadas não se resume ao Livro, nem sequer ao formato impresso (jornais, revistas, folhetos, etc.) mas a uma miríade de formatos (multimédia, vídeo, sonoro, gráfico, digital, electrónico, etc.), até pela marcada mescla na actualidade desses formatos.
Se os hipermercados contribuíram de forma marcada para o fabrico ou o exponenciar de autores best-sellers a verdade é que também têm induzido o asfixiar do mercado dos livros de pequena tiragem e geralmente de maior qualidade literária, didáctica ou académica.
Primeiro, VPV agradeça a Deus ou a quem lhe parecer melhor, que quem lhe corrige previamente as incorrecções de Língua Portuguesa das suas crónicas ainda ter paciência para o fazer (neste caso aturar). Segundo, inútil é a sua crónica deste Domingo. Terceiro, VPV esforce-se por apresentar argumento mais plausíveis, menos chico-espertos e mais respeitosos (até em função dos seus, ainda, leitores).
Por último, sorte a nossa que VPV não é membro da Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura! |